Crise nas maternidades segue promovendo desespero e revolta

Postada em 22 de fevereiro de 2018 as 18:28
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Na linha de frente do atendimento em maternidades desaparelhadas e desestruturadas, os médicos bem sabem das agruras por que passam as pessoas que os procuram diariamente. Mas, o problema é estrutural e de gestão. O mais recente episódio lamentável decorrente da superlotação e outras deficiências ocorreu no ultimo dia 21 (quarta-feira) em frente ao muro da maternidade Albert Sabin, em Cajazeiras, onde uma gestante foi amparada na calçada por pessoas atônitas com a perda de líquido decorrente da gestação avançada.

Gestante não suportou tempo de espera em frente a Albert Sabin e passou mal (imagem extraída de telejornal)

Só depois deste triste incidente, trouxeram uma maca para conduzir a paciente ao interior da unidade. Sob forte sol, ela e muitas outras gestantes aguardavam atendimento do lado de fora, em meio a muita angústia, incerteza e revolta. O Sindimed ouve dos profissionais queixas recorrentes sobre a precariedade da estrutura oferecida nas maternidades a atua como uma espécie de caixa de ressonância junto à sociedade mas, sobretudo, junto às autoridades encarregadas de aplicar os recursos públicos em serviços de melhor qualidade. As cobranças são reiteradas, contudo não sensibilizam os gestores o suficiente para levar a melhorias substanciais.

Prova disso pode ser vista em outra unidade de saúde que também sofre com a carência de pessoal: o Hospital Menandro de Faria, na Estrada do Coco. Segundo do presidente do Sindimed, Francisco Magalhães, a maternidade do Menandro carece, por exemplo, de obstetras, pediatras e anestesistas em número suficiente para dar conta dos plantões e, consequentemente, amenizar o sofrimento das pessoas que chegam à unidade em busca de auxílio médico.

Situação semelhante também dificulta a vida das equipes de saúde e de pacientes que procuram atendimento no Hospital João Batista Caribé, no subúrbio de Salvador. Segundo o vice-presidente do Sindimed, Luiz Américo Câmara, o subaproveitamento do espaço da maternidade só agrava a situação do hospital suburbano. O dirigente sindical informou que apenas uma parte dos mais de 50 leitos que a unidade tem são utilizados. É imprescindível que os gestores invistam em mais aparelhamento e recursos humanos para enfrentar com realismo o caos que se instalou nas maternidades, alerta o Dr. Américo.

Alerta

Tanto Francisco Magalhães quanto Luiz Américo pontuam que não faltam alertas sobre o problema, endereçados tanto aos secretários de saúde municipais e estadual quanto aos representantes dos ministérios públicos do Trabalho e do Estado da Bahia. São ofícios cobrando providências urgentes contra problemas que vão desde a falta de remédios, à depreciação e à ausência de aparelhamento médico. Outro grave problema, ressaltado pelo vice-presidente do Sindimed, é o atraso de pagamento aos médicos, ou mesmo o calote de vários meses, o que, inclusive, desestimula a permanência de muitos deles nas unidades de saúde.

Magalhães foi à maternidade, conversou com a paciente que perdeu líquido e lamentou a falta de estrutura

Muito desse desestímulo e a consequente evasão de profissionais decorre da precarização das relações trabalhistas. A contratação em regime de pessoa jurídica, a famigerada pejotização (em lugar do concurso público), coloca na lata do lixo as garantias trabalhistas e dá margem a mais desrespeito, como a redução salarial, as demissões e punições intimidatórias e os recorrentes atrasos salariais promovidos pelas empresas terceirizadas pelos gestores estaduais e municipais. O Sindimed lidera mobilizações contra estes abusos e, não raro, os profissionais têm como último recurso lançar mão de fortes protestos, que incluem paralisações de advertência e até mesmo por tempo indeterminado.

Porto Seguro

No interior do estado, a dura realidade das maternidades públicas não é diferente. Também no dia 21, o Sindimed se solidarizou e se colocou à disposição de médicos que tiveram seus nomes indevidamente expostos em veículos de comunicação da região, em decorrência de um parto mal sucedido, que resultou na morte do bebê. O episódio ocorreu na maternidade do Hospital Regional Deputado Luís Eduardo Magalhães, no dia 13 de fevereiro. No manifesto de apoio, é novamente denunciada a falta de leitos, equipamentos, medicações e até itens básicos, como luvas e material de limpeza, o que coloca em risco muitas vidas, todos os dias.

É bom ressaltar que os profissionais da saúde se empenham e fazem tudo ao seu alcance para salvar vidas, mas seu voluntarismo muitas vezes esbarra em questões cuja resolução depende exclusivamente de vontade política dos gestores. A parturiente chegou ao hospital de Porto Seguro sem apresentar registros de acompanhamento pré-natal nem qualquer histórico médico que indicasse risco ou urgência. Foi atendida pelos plantonistas dentro dos mesmos protocolos dispensados a todas as pacientes que chegam à unidade hospitalar. Sofreu com a falta de leito para internação imediata, situação que não está sob o controle da equipe médica, mas decorre de problema crônico que persiste na Bahia há mais de 30 anos.

A crise na assistência materno-infantil na Bahia não é nova. o diretor do Sindimed, Gil Freire, lembra que há mais de 30 anos já enfrentava o problema da falta de leitos em seus plantões. Há nove anos a revista Luta Médica (do Sindimed), estampava uma de suas capas com o título Choro da Maternidade – Incerteza e dificuldade na hora do parto. O texto (com ampla abordagem do problema na capital e interior) destacava o drama de Lucileide da Anunciação que, ironicamente no Dia Mundial da Saúde, 7 de abril (em 2009), deu à luz um menino em plena via pública, em Ondina. O motivo? O tão atual drama de quem depende exclusivamente da estrutura do SUS para parir e cuidar da saúde dos filhos.

Quase dez anos se passaram após ampla reportagem da Luta Médica, mas a crise continua

 

CLIQUE AQUI E LEIA RELATÓRIO DE VISITAS ÀS MATERNIDADES ENCAMINHADO, EM 2017, ÀS AUTORIDADES.



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